Super Árvores, de Cingapura, e “árvores artificiais”, de Belém. Foto: Leonardo Macêdo/ Ascom

A obra da Doca, realizada pelo governo do Pará para a COP 30, continua dando o que falar, apesar da tentativa do governador Helder Barbalho (MDB) de positivar o assunto, em visita na última segunda-feira (31), levando a tiracolo a vice-governadora Hana Ghassan e seu preposto e primo, o prefeito Igor Normando (MDB), numa espécie de inauguração artificial do primeiro trecho, no bairro do Reduto, em Belém — ainda sem o público.

As inusitadas árvores artificiais, inicialmente apelidadas de “ecoárvores”, agora chamadas de “jardins suspensos”, começaram a ganhar repercussão na mídia nacional. “As estruturas são feitas a partir de material reciclado, como vergalhões que seriam descartados, mas que, agora, servem de e para plantas vivas, instaladas onde o plantio direto não é possível”, destaca nota da Agência Pará, órgão oficial de notícias do Estado.

“O uso das estruturas foi necessário porque o solo na região é muito raso para o plantio de árvores naturais. Olha essa coragem de dar essa justificativa, que desculpinha ruim, hein?”, comentou a jornalista Roberta Garcia, do Portal ICL Notícias. “Essa solução, em plena COP, que vai debater as mudanças climáticas, vai na contramão de tudo, do próprio propósito do evento”, disse a jornalista.

“Eu quero saber quanto eles gastaram para fazer isso daí”. “Tiro no pé”. “Quem foi o gênio que fez isso? Foi o estagiário de marketing?”, ironizou Guga Noblat durante a conversa.

Outro a criticar a proposta foi o jornalista da GloboNews, André Trigueiro, que comenta sobre temas ambientais. “Tendo a oportunidade de compatibilizar investimentos urbanos com uma visão moderna, arrojada, de uma cidade amazônica (..), o espírito da COP, a coisa está indo na contramão”.

A técnica usada pelo governo paraense teria sido suspostamente inspirada em um projeto de Cingapura, o parque Gardens by the Bay, complexo cuja atração principal são as chamadas “superárvores”. Uma cópia muito mal feita, já que por lá o projeto teve planejamento: as árvores gigantes são equipadas com painéis solares, sistemas de reciclagem de água e tecnologias ecoeficientes, e funcionam como dutos de ventilação para a maior estufa de vidro do mundo, com flores e plantas de climas mediterrâneos e semiáridos.

Outras críticas

Além das árvores artificiais, o projeto da “Nova Doca” vem sendo criticado por destinar o esgoto dos moradores dos bairros do Reduto/Umarizal, de classe média alta, para a comunidade da Vila da Barca, a alguns metros dali, num evidente exemplo de racismo ambiental.

As obras da “Nova Doca”, que tem valor estimado é da ordem de mais de R$ 310 milhões, também foram alvo de representação ao Ministério Público Federal por suspeita de superfaturamento. A denúncia foi protocolada no início do mês de março. 

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