Fotos: VídeoReprodução

As manifestações no Marajó, contra o aumento abusivo das tarifas do transporte hidroviário na região, entram no quinto dia nesta quinta-feira (20), depois de cenas brutais de violência da Polícia Militar do Pará contra os manifestantes no dia de ontem. que bloqueavam a PA-154, que dá o o Porto da Foz do Rio Camará.

O Grupo de Juventude Negra Quilombola Abayomi divulgou uma nota de repúdio contra a repressão do governo de Helder Barbalho (MDB), e exigindo a revogação imediata do aumento das agens para que seja aberta uma negociação e o fim do monopólio da Henvil Transportes.

Confira abaixo:

NOTA OFICIAL DO GRUPO ABAYOMI: REPRESSÃO AOS QUILOMBOLAS NO MARAJÓ E A FALSA NARRATIVA DO PARÁ NA COP 30

O Grupo de Juventude Negra Quilombola Abayomi vem a público denunciar e repudiar veementemente a violência cometida pelo Estado do Pará contra quilombolas e demais manifestantes que, de forma pacífica, protestam contra o aumento abusivo das tarifas do transporte hidroviário na região do Marajó.

Na manhã de ontem, 19 de março de 2025, na comunidade quilombola de Vila União/Campinas, na PA-154, a Polícia Militar do Pará, agindo sob ordens do governo estadual, atacou covardemente os manifestantes, utilizando bombas de efeito moral, balas de borracha e spray de pimenta contra homens, mulheres, idosos e crianças. Não satisfeitos, lançaram bombas dentro de residências e até mesmo em uma escola infantil, ferindo moradores e deixando muitos em estado de choque. Além da brutalidade, comunitários quilombolas foram presos arbitrariamente, simplesmente por exercerem seu legítimo direito à manifestação.

PARÁ: DA VIOLÊNCIA À HIPOCRISIA DA COP 30

Toda essa repressão ocorre às vésperas da realização da COP 30, evento internacional do clima que o governo estadual faz questão de exibir como um troféu. No entanto, há uma dicotomia evidente entre o que o Governo do Pará anuncia ao mundo e o que realmente faz. O discurso oficial apresenta um estado comprometido com a sustentabilidade, a preservação ambiental e a valorização dos povos tradicionais, mas na prática, o Pará da COP 30 reprime, agride e marginaliza suas comunidades originárias.

O governo de Helder Barbalho quer posar de defensor da Amazônia e de seus povos, mas não dialoga com quilombolas quando o assunto é direito, dignidade e justiça social. Da mesma forma que agrediu os indígenas por reivindicarem educação de qualidade, agora ataca os quilombolas que lutam pelo direito ao transporte ível e por uma economia que não esmague ainda mais os mais pobres. Isso demonstra que a preocupação do governo não é com as pessoas, mas sim com a sua própria imagem no cenário internacional.

É inaceitável que o Pará busque reconhecimento global enquanto, internamente, viola sistematicamente os direitos das populações que são as verdadeiras guardiãs desse território. Como podemos falar em sustentabilidade e justiça climática se a população quilombola, que há séculos protege suas terras e seus modos de vida, é tratada com violência e desprezo? Como o Pará pode se apresentar como referência mundial em políticas socioambientais se suas comunidades tradicionais são perseguidas, silenciadas e impedidas de exercerem seus direitos?

EXIGIMOS:
01. A revogação imediata do aumento das agens para que seja aberta uma negociação justa e transparente. Não aceitaremos acordos que não garantam a redução dos preços ao valor anterior. Esse reajuste atinge diretamente os trabalhadores, os estudantes, os agricultores e comerciantes locais, tornando o custo de vida insustentável e impactando severamente a economia do Marajó.

02. O fim do monopólio da Henvil Transportes, que há anos impõe tarifas exorbitantes e oferece um serviço precário sem concorrência justa. Os quilombolas e toda a população marajoara têm direito a um transporte público ível, seguro e digno! Também utilizamos as embarcações em todas as suas áreas, incluindo as salas VIP, e não aceitaremos segregação ou discriminação velada!

03. O fim da repressão policial contra os manifestantes. A resposta do governo à mobilização popular não pode ser baseada no uso da força, no medo e na repressão, mas sim no diálogo e na construção de soluções que respeitem os direitos da população.
Até o momento, nenhuma autoridade estadual chamou os quilombolas para qualquer reunião de negociação. O governo impõe aumentos arbitrários, nega diálogo e responde com violência quando o povo se manifesta. Isso não será tolerado!

A Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará – MALUNGU acompanha a situação através de sua assessoria jurídica e tomará todas as medidas necessárias para a defesa dos direitos do nosso povo. Os quilombos de Salvaterra carregam uma história de resistência secular, e não nos calaremos diante de mais esse ataque!

Exigimos respeito, diálogo e justiça!

Salvaterra, Ilha do Marajó-PA, 20 de março de 2025.
Grupo de Juventude Negra Quilombola Abayomi

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