Foto: Agência Pará

O relatório anual do Instituto Fogo Cruzado, instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, expõe um cenário crítico nas regiões metropolitanas de Rio de Janeiro, Recife, Belém e Salvador. A distribuição geográfica das áreas monitoradas pelo Fogo Cruzado, abrangendo as regiões Sudeste, Nordeste e Norte do país, possibilita identificar tanto padrões comuns quanto especificidades regionais no uso da força letal pelo Estado. Permite também compreender a dimensão dos conflitos entre grupos armados no cotidiano de grandes centros urbanos.

Mais do que números isolados, o monitoramento simultâneo dessas quatro áreas revela tendências preocupantes. Em 2024, foram registrados 6.769 tiroteios, que resultaram em 5.936 pessoas baleadas, com 4.104 mortos e 1.832 feridos. Quase um terço do total de tiroteios monitorado (29%) ocorreram durante ações policiais.

Pará

No Pará, a violência policial se mostra mais crítica. Dos 694 tiroteios registrados na região metropolitana de Belém no primeiro ano de monitoramento do Instituto, 42% dos registros ocorreram durante ações policiais — o maior índice entre os quatro estados monitorados pelo Instituto Fogo Cruzado, superando o Rio de Janeiro (36%) e a Bahia (38%).

A violência no estado parece ter um alvo certo. Dos 686 baleados em 2024, 96 vítimas foram atingidas em ataques armados sobre rodas e somente duas pessoas ficaram feridas por balas perdidas.

O contexto nacional de armamento civil agrava ainda mais o quadro de violência. Entre 2017 e 2023, houve um aumento de 227% no número de armas registradas, chegando a aproximadamente 4,8 milhões de armas em posse da população civil. Junte-se a esse número o dado de pessoas que morreram em confrontos com agentes de segurança: entre 2015 e 2024, foram 51 mil pessoas.

Para Cecília Olliveira, diretora Executiva da organização, os dados evidenciam uma realidade preocupante: “A violência armada segue como um grande desafio Os impactos são devastadores, especialmente para crianças, adolescentes e comunidades vulneráveis. A flexibilização do o a armas de fogo, sem o acompanhamento dos mecanismos de fiscalização, combinada com uma política de segurança pública centrada no confronto, tem contribuído para a manutenção deste ciclo de violência, algo que não é novidade, mas que vem aparecendo a cada novo relatório anual”.

Cecília ressalta ainda a urgência de políticas públicas coordenadas e baseadas em evidências. “Há oito anos apresentamos números que traduzem a dor de famílias e o medo do cidadão. Há oito anos vemos mais do mesmo nas políticas públicas de segurança. É preciso pensar em estratégias com metas claras, planejadas a partir dos dados produzidos pelo poder público e sociedade civil, com atenção especial para a fiscalização, o controle de armas e à reformulação das estratégias de enfrentamento, que precisam ser calcadas em evidências e inteligência. A violência é hoje a maior preocupação do brasileiro, superando saúde e educação”, conclui.

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