Queima de livros em praça pública na Alemanha nazista – Foto: Domínio Público

Por Luiz Arnaldo Campos
Cineasta e Escritor

“Quando ouço a palavra cultura destravo a minha Browning”, a frase do dramaturgo nazista Hanns Jhost, faz parte de sua peça Schageter, escrita em 1933, para saudar o 43° aniversário de Adolf Hitler. Com pequenas variações vem sendo apontada como de autoria do ministro de propaganda do III Reich, Joseph Goebbels ou de Herman Goering, indicado como sucessor do ditador.

Estes equívocos na identificação do autor são perfeitamente compreensíveis pois a frase traduz à perfeição a principal característica do que se poderia chamar uma política cultural fascista: a repressão.

Não por acaso quando alguém tenta associar palavras como arte, cultura, literatura com fascismo ou nazismo, as imagens que surgem são a da queima de livros, censura, proibições. Não somente porque a violência é um valor supremo da ideologia nazi-fascista, mas também porque regimes deste tipo odeiam as perguntas e as críticas. São filhos de uma suposta verdade única que não pode ser questionada e onde qualquer ideia dissidente deve ser suprimida.

Este é o grande fator da incompatibilidade entre o fascismo, a literatura e todas as formas de arte, pois ao tentar suprimir o contraditório os governos fascistas atingem o coração da Arte, que é exatamente a liberdade criativa. Da Alemanha de Hitler, ando pela Itália mussolinesca até a trágica ópera-bufa do bolsonarismo, as realizações culturais do fascismo são essencialmente negativas. São muito mais conhecidas pelo que proibiram de fazer do que por suas realizações. E aquilo que fizeram são, em quase sua totalidade, uma produção medíocre, sem um pingo de emoção ou criatividade.

O fascismo é um ambiente hostil para a literatura, um ecossistema perverso onde só viceja a bajulação, o elogio fácil, a falta de escrúpulos, a covardia.

Ultimamente, nas eleições em curso, as campanhas da extrema direita fazem uma utilização fácil de fake-news, vídeos falsificados, por meio da inteligência artificial, documentos falsos e todo um arsenal voltado para o achincalhe e a desconstrução da imagem dos adversários através de todo tipo de mentiras. É uma pequena amostra da “ação cultural fascista”. Não por acaso, quase cem por cento dos artistas brasileiros fazem campanha contra os fascistas. É uma ação necessária para salvarmos o país, para salvarmos a nós mesmos.

Publicado originalmente na revista da Academia Belenense de Letras.

 

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