Queimada em Altamira/ Pará lidera o ranking de queimadas em florestas, atualmente (foto: Victor Moriyama/ Greenpeace)
Pressionada pelo aumento consistente no número de queimadas no país, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, declarou na última semana que havia suspeitas de que os incêndios florestais em São Paulo neste mês poderiam ser resultado de uma ação orquestrada, repetindo um episódio acontecido aqui no Pará em 2019, que ficou conhecido como “Dia do Fogo”.
As declarações dadas pela ministra trouxeram à tona o episódio paraense, levantando uma questão: afinal, o que aconteceu com os responsáveis pelo “primeiro” Dia do Fogo, ocorrido em Novo Progresso, sudoeste paraense, há cinco anos atrás?
Segundo apuração da BBC News Brasil, cinco anos depois do suposto primeiro “Dia do Fogo”, as duas investigações em nível federal sobre o assunto foram arquivadas no primeiro semestre deste ano, sem que ninguém tenha sido indiciado, denunciado ou julgado pelo episódio.
Ibama tentou atuar, mas não obteve apoio da Polícia Militar do Pará
Ao que tudo indica, as investigações não obtiveram sucesso em partes devido a falta de apoio da Polícia Militar do Pará e do empenho do governo do estado para punir os criminosos.
À época, um despacho do Ministério Público Federal foi deferido, datado do dia 22 de agosto de 2019. No documento, o então procurador da República no município de Itaituba, Paulo de Tarso Moreira, afirmou que “conforme manifestação apresentada pelo próprio IBAMA, o enfrentamento de tais infrações ambientais têm sofrido enfraquecimento pela ausência de apoio do Estado do Pará”.
Ao ser questionado sobre o que o Ministério Público havia conseguido apurar sobre os incêndios criminosos, o procurador respondeu que estava sentindo uma ausência de apoio da PM do Pará para garantir a integridade dos agentes do IBAMA.
“De fato, existe essa rusga. Essa falta de apoio da PM do Estado. Tem que entender por que o Ibama não está conseguindo esse e policial? O que está acontecendo?”, afirmou Paulo de Tarso à época, segundo reportagem do Amazônia Real.
Dia do Fogo pode incentivar crimes ambientais, diz especialista
Ambientalistas avaliam que a falta de responsabilização pelo Dia do Fogo em Novo Progresso fortalece a sensação de impunidade em relação a crimes ambientais no Brasil.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que mesmo após a repercussão negativa do “Dia do Fogo” cinco anos atrás, a região do Pará continua a liderar o ranking de incêndios florestais em todo o Brasil.
A coordenadora de Políticas Públicas da organização não-governamental Observatório do Clima, Suely Araújo, disse à BBC Brasil que o desfecho das investigações no Pará pode impulsionar o crime ambiental.
“Essa não responsabilização sobre o que aconteceu no Dia do Fogo, que foi orquestração criminosa, é muito ruim e acaba impulsionando a possibilidade de novas ocorrências similares. Isso, inclusive, já pode estar acontecendo”, disse a ambientalista.
Segundo ela, há uma ligação direta entre a impunidade e o fato de Novo Progresso, palco do “Dia do Fogo”, continuar entre os líderes no número de queimadas no Brasil.
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Com informações de BBC Brasil e MetSul Metereologia