Hoje em dia, nesses tempos insanos de produção e disseminação de conteúdos, nós temos basicamente dois tipos de pessoas.

Temos os que acordam, comem algo e saem pra trabalhar. São a imensa maioria.

Tem o funcionário que toma conta do caixa do mercado e quase nem tem tempo para olhar a rede social na web. Ou para checar se a postagem é fofoca ou verdade.

Tem cozinheira metódica preocupada com o cardápio, o contabilista aborrecido que vai fazer a folha de pagamento. O rapaz que conheceu a menina ontem e quase nem consegue mais lembrar que é engenheiro.

Tem professora que vai cuidar do plano de aulas e pensar na roupa que vai usar na festa do final de semana.

Tem o jornalista idealista, ocupado em apurar tudo sobre um possível escândalo. Tem vereador que vai conferir com lupa o orçamento do município.

O prefeito fica ligado em conferir projetos, acompanhar as tão sonhadas obras, a queda das receitas. E tem o deputado sorridente, que corre para a comissão de energia e vai ajudar a pensar o país nas próximas 50 décadas.

Todos muito ocupados, todos cheios de problemas para resolver, todos pressionados por prazos, todos cheios de sonhos, de curto, médio ou longo prazo, todos e todas absorvidas pelas missões e tarefas.

Por outro lado, tem uma turma, bem menor, mas não mesmo ativa ou menos impactante, que toma o café amargo e vai concluir aquela trucagem de um video.

O carinha esperto que vai fazer uma montagem de um telejornal, fazer um card reforçando uma teoria da conspiração.

Uns vão plantar pautas num portal de credibilidade duvidosa. Outros am o dia fazendo uma musiquinha malina, editando uma fala de alguém para tirar de contexto.

São operários de uma indústria que cresce em uma velocidade alucinante. A indústria da apatia, do desencanto, da descrença na política como espaço de convivência entre diferentes . Operariado dedicado, habilidoso, consumido por trabalhos que exigem atenção. São obreiros de um mundo onde cada pessoa é uma rede de comunicação. Umas, redes maiores. Outras, bem pequenas. Mas todos em redes sociais ou anti-sociais.

Todos com capacidade de produzir mensagens e compartilhar rápido. Estimular a confusão, embaralhar pensamentos e estimular que pessoas se fechem em certezas! Agora não precisam mais de gráfica, carros-som, produtora de video, rádio FM ou AM. Apenas produzem e soltam. Um clique. É como gostam de dizer: – postei e saí correndo!

Como um jovem soldado, que joga uma granada na guerra, e sai em disparada para não ser atingido pelos estilhaços mortais do artefato.

Glauco Alexander Lima, cidadão brasileiro

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